Deitamos o nosso filho depois de 20 minutos de embalo em que não podemos parar ou sentar porque senão ele reclama. Escapulimo-nos de mansinho e ficamos orgulhosas por termos conseguido sair do quarto à primeira. Vamos jantar a correr. A correr porque estamos cheias de fome – estivemos demasiado tempo dentro do quarto nos preparativos que antecedem o sono -, porque queremos comer rápido para ir dormir cedo e porque o nosso marido está sentado no sofá à espera há muito tempo (“safado! ele a ver uma série e eu no quarto a adormecer o miúdo!” ).Vamos dormir a seguir ao jantar. Em ansiedade e algo irritados porque olhamos para o relógio e sabemos que daqui a 3h o nosso filho vai acordar e TEMOS de dormir… temos de adormecer rapidamente.
À hora de sempre o nosso filho dá “sinal”… chora, chama. Vamos até lá, estremunhadas, mas ainda pacientes. Voltamos a embalar, acalmar e adormecer. “Ufa… foi rápido, menos mal que aceitou logo o colo” (há sinais que nos indicam que a coisa vai ser rápida ou, pelo contrário… demorada).
Voltamos para a cama. O nosso marido ficou no quentinho e nós agora estamos cheias de frio e despertas. “Mas porque é que ele demora tanto tempo a acordar quando o miúdo chama? Porque sou sempre eu a levantar-me primeiro para ir lá?”.
Adormecemos. Duas horas depois o nosso filho chora de novo. Levantamo-nos de rompante. Estávamos a dormir profundamente e apanhámos um susto. Vamos até lá a correr – não queremos que desperte “demais”… mas quando chegamos já está de pé, já não aceita logo a chucha.. aí sabemos que está tudo “estragado” – não vai adormecer rapidamente. Segue-se muito tempo, demasiado tempo com ele no colo, chorando, dormitando, chorando de novo… Acordamos o pai – se já não estava acordado – e passamos o pequeno para os braços dele. A mudança de colo nem sempre é pacifica, mas o cansaço fala mais alto. Voltamos para a cama e deixamos os dois rapazes no outro quarto na “luta” do embalo. Nos dias em que o pai é bem sucedido regressa para a cama pouco depois e volta a adormecer (“como eles adormecem rápido!”); noutros traz a cria nos braços e tenta que adormeça na nossa cama. Mas o pequeno dá voltas e voltas, pontapés no pai, braços em cima da mãe, senta-se e deita-se várias vezes e também não dorme. Fartos, voltamos a coloca-lo ao colo, embalando e transportamos de novo para o seu quarto. Finalmente adormece.
Quando regressamos ao sono, ele volta a chorar. Num misto de irritação e de tristeza profunda (“porquê eu!?”) vamos até ao quarto, fazendo “shhh” já desde o corredor. Voltamos a aconchegar, voltamos a adormecer o nosso filho.
Às 7h20 da manhã desperta e não quer dormir mais. O dia começa. Nós, com uma dor de cabeça enorme e sem conseguir raciocinar, ele com rabugice e alguma exigência. De repente apercebemo-nos de que é sábado… e ficamos mais irritados ainda. Durante a semana o pequeno vai para a creche e nós vamos para o trabalho. E preferimos assim. Sentimos culpa por sentir e pensar desta forma, mas é a verdade. Porque durante o fim de semana sabemos que ele não nos vai dar uma pausa… que a sesta vai ser de apenas 45m ou 1h, que vamos andar exaustos ao sabor do dia, tentando inventar actividades para fazer em família que poderiam ser giras e divertidas SE o nosso filho não estivesse rabugento e SE nós tivéssemos energia. Olhamos para ele e sentimos aquele amor quente e avassalador que nos enche o coração… e ao mesmo tempo a culpa enorme pelo cansaço de não conseguirmos aproveitar e expressar todo esse Amor.
Ansiamos pelo final do dia para finalmente descansarmos algumas horas, mas quando o final do dia chega entramos numa ansiedade profunda por adivinharmos a noite que aí vem.
Isto não é ficção. É o retrato de milhares de mães e pais que me procuram ao longo dos anos. Parece exagero, eu sei. Parece irreal, eu sei. Mas não é. Entre as pessoas que me procuram é frequente. Aceitar esta realidade pode ser uma solução. Mas não aceita-la é de pleno direito de quem a vive.
Para muitas famílias a hora de dormir é um inferno. Retira-lhes energia, felicidade, tempo, alento. Traz-lhes frustração, irritabilidade, cansaço, tristeza. Para muita gente, viver o dia-a-dia da forma que aqui descrevi é “normal”. “Faz parte”. Para muitas outras é caótico e muito, muito duro. Daí que quem o vive bem deveria ser mais feliz e menos belicoso com os demais. A hora de dormir não precisa de ser uma guerra ou uma luta. Não precisa de ser um inferno. Por vezes basta apenas uma boa higiene de sono e uma aprendizagem consistente para se transformar num momento tranquilo. Porque sim, é possível. Porque sim, os benefícios são imensos. Porque sim, vale a pena. A maternidade pode ser muito mais descansada e feliz.
Lisboa
Rainha – Teatro para Bebés dos 6 aos 36 meses
Quando: até 14 de outubro
Onde: Teatro Municipal Amélia Rey Colaço – Algés
Formação de Facilitadores de Meditação para Crianças e Adolescentes by Patrícia Barradas
Quando: de 10 a 21 de outubro
Onde: Lisboa
Pequenos Passos Para Uma Grande Autoestima
Quando: 21 de outubro
Onde: Red Apple | Lisboa Rua Cais das Naus
Porto
Visita guiada ao Museu das Marionetas do Porto
Quando: 13 de outubro
Onde: Rua de Belomonte 61, 4050-262 Porto