O desafio de ser criança, hoje!

Ouvimos com frequência nos dias que correm, ser criança é um enorme desafio. Recordo-me de ouvir algo semelhante quando era criança, pelo que me fica a dúvida – os adultos consideram que é um desafio apenas porque as realidades são diferentes, ou o mundo de hoje é, de facto, mais difícil do que o da geração anterior ?

Actualmente, as solicitações são intermináveis. TV por cabo com centenas de canais são um concorrente desleal do tempo para a leitura. A internet, consolas de jogos on-line, redes sociais, rivalizam com as brincadeiras no parque, jogar à bola, andar de bicicleta…

O mundo de hoje é global: a internet, a partilha de informações, as redes sociais… colocam-nos em permanente estado de alerta e numa necessidade desenfreada de ter aceder a tudo e na hora. Há 30 anos, o tempo de espera pela resposta a uma carta era de 1 a 2 semanas. Com o aparecimento do email, este tempo passou a 2-3 dias. Com o desenvolvimento das mensagens, passámos a horas, e actualmente, com as redes sociais e aplicativos de mensagens, o tempo expectável de resposta é no imediato. De facto, o grande desafio dos dias de hoje é o TEMPO. Tempo para conseguir fazer tudo e à velocidade que tudo se nos impõe.

Isto não significa que os tempos de hoje sejam piores. Lido todos os dias com jovens e vejo a nova geração muito mais dinâmica, mais preparada para enfrentar a mudança. Uma geração que vive sobretudo o presente. Estudos recentes mostram que os jovens de hoje continuam a querer casar e a ter filhos mas querem fazê-lo mais tarde. Antes querem viver e viajar, optam por alugar uma casa em vez de a comprar. São também consumidores menos fidelizados. Fazer um ano sabático depois dos estudos ou mudar repentinamente de país ou continente é normal porque, de facto, o mundo tornou-se pequeno, talvez demasiado pequeno. Vive-se mais intensamente e os jovens são mais criativos, mais inovadores, mais dinâmicos, mais empreendedores. As startup serão o modelo das pequenas empresas nos próximos anos.

O meio ambiente, a reutilização, a responsabilidade social e a sustentabilidade do planeta, são preocupações reais das novas gerações.

Vi os meus sobrinhos mais novos passarem os dedos pelas fotografias das revistas como se de um tablet se tratasse. Assisti, incrédulo, à destreza com que manejavam smartphones ou as consolas de jogos. O equilíbrio entre o mundo virtual e a realidade é o verdadeiro desafio que os pais têm de vencer. Cabe-lhes contrariar a tendência tecnológica, criando o gosto pela vivência de brincar no parque, passear de bicicleta, jogar de futebol, ter conversas bem dispostas, uma boa leitura… só desta forma as crianças conseguirão valorizar estas experiências tornando-se depois adultos mais completos e mais preparados. A prática de desporto na escola ou como um hobbie assume um papel crucial – a partilha, as emoções, o companheirismo, são qualidades que se ganham, vivendo.

E fica a dúvida. O desafio é ser criança ou sermos pais destas crianças ?

Paulo Frias Costa
Master Portugal & Espanha

Lisboa

Porto